Hoje a mãe do pacotinho apresentou uma nova música para os meninos de propósito.
Foi no carro, sábado de manhã, a caminho da aula de pintura. Um dia lindo,
ensolarado de céu azul. O pacotinho levava um rolo com seus desenhos e estava
com vontade de pintar, isso dito de maneira espontânea (as vezes ele culpa a mãe). O CD que ele ouviu não é
de criança, mas tem uma música linda que conta/canta a lenda do Pégasu, o
cavalo alado da mitologia grega. Sem entrar muito em detalhes a mãe colocou o
disco e disse o nome do compositor (Jorge Mautner) e do cantor (Moraes Moreira)
e disse que ele, o cantor, é baiano. Os meninos começaram a ouvir uma, duas,
três, mais de 10 vezes a música até cantarem juntos o bordão final “Pégasu, Pégasu, Pégasu, pega azul... Pégasu!”.
Como previsto a música gerou muitas questões. Muitas
palavras novas, muitos pássaros de nomes estranhos. O Jonitas estranhou muito
que o pássaro da música fosse um “passarinho feio” como se isso não pudesse existir.
O pacotinho queria saber o significado da palavra pretencioso, o porque da cegonha ser sagrada, como é um colibri, um
abutre e as asas da quimera... foi procurando novos elementos a cada audição. “Mas, porque ele nunca
estava contente?”
E finalmente, juntando as pontas o pacotinho perguntou:
“Porque um cantor baiano resolveu cantar uma lenda grega?” Ah pacotinho... o mundo é
muito mais bonito misturado.
Era uma vez, vejam vocês, um passarinho feio
Que não sabia o que era, nem de onde veio
Então vivia, vivia a sonhar em ser o que não era
Voando, voando com as asas, asas da quimera
Sonhava ser uma gaivota porque ela é linda e todo mundo nota
E naquela de pretensão queria ser um gavião
E quando estava feliz, feliz, ser a misteriosa perdiz
E vejam, então, que vergonha quando quis ser a sagrada cegonha
E com a vontade esparsa sonhava ser uma linda garça
E num instante de desengano queria apenas ser um tucano
E foi aquele, aquele ti-ti-ti quando quis ser um colibri
Por isso lhe pisaram o calo e aí então cantou de galo
Sonhava com a casa de barro, a do joão-de-barro, e ficava triste
Tão triste assim como tu, querendo ser o sinistro urubu
E quando queria causar estorvo então imitava o sombrio corvo
E até hoje ainda se discute se é mesmo verdade que virou abutre
E quando já estava querendo aquela paz dos sabiás
Cansado de viver na sombra, voar, revoar feito a linda pomba
E ao sentir a falta de um grande carinho então cantava feito um canarinho
E assim o passarinho feio quis ser até pombo-correio
Aí então Deus chegou e disse: Pegue as mágoas
Pegue as mágoas e apague-as, tenha o orgulho das águias
Deus disse ainda: é tudo azul, e o passarinho feio
Virou o cavalo voador, esse tal de Pégaso
No final o Pacotinho e Jonitas pegam embalo e cantam rápido: Pega o azul, pega o azul, pégasu, pégasu, pégasuuuuuu!
xx