O pacotinho está apaixonado. É sério. Agora, todo dia, quando está sozinho comigo, ele me pede para cantar aquele hit das festinhas de aniversário, “Com quem será?”. Eu vou listando um monte de nomes “que o Felipe vai casar”, mas, a cada um deles, o menino diz não!, convicto. Aninha, não. Júlia, não. Elisa, não. Luísa, não. Lara, não. Adelaide, não. Mamãe, não. Vó Maria, não. Vô Luís, não (ainda bem!).
Então, caprichosamente, eu deixo para o fim aquilo que ele quer ouvir. A menina do museu... E ele grita: sim!
Quem merece?
Sim, ele merece, mas ela não tem nome. É só uma menina – que não sai da cabeça dele. Ocorreu o seguinte: uns dois domingos atrás, levamos o pacotinho para o Museu da Casa Brasileira assistir a um show de música infantil judaica. O lugar tem um jardim lindo, a tarde era de sol ameno, dourado, e a música, uma graça – cenário perfeito para uma paixão. As crianças ficaram todas de frente para o palco, ouvindo, concentradas. Ele estava assim, no meio da turma, até que ela parou do lado dele. Eu vi tudo: ele olhou para ela e, acho, o mundo caiu. Ele ficou olhando fundo, olho no olho, sem falar nada, até que ela se assustou e saiu de lado. Ele foi atrás. Ela virou, e os dois continuaram se olhando. Depois de um longo tempo, com a maior inocência do mundo, o malandro perguntou, sem sequer ficar vermelho: “Você tem nome?” Ela não falou nada e saiu de novo. Ele não desistiu e, quando a alcançou de novo, esticou as duas mãos, uma sobre cada ombro dela. (Eu não estava acreditando...) Antes que o fato se consumasse, o pai dela chegou. Puxou a filha com força, como se a estivesse salvando de um pequeno delinqüente. O menino magoou, tadinho.
Depois disso, ele desistiu do show e ficou vagando a esmo pelo gramado. Achei que ele estava na fossa e tentei dar uma força: “O pai dela era meio bicudo, né?” “Ele é ‘bitudo’”, concordou o pacotinho.
Ele nunca mais vai ver ela, eu sei (crianças transformam-se muito rapidamente; se ele a reencontrar daqui a uns meses, no mesmo lugar, talvez ambos já estejam muito diferentes, e a química não role mais. Será?)
Hoje de manhã, depois de mais um “Com quem será?”, eu simplesmente perguntei para ele: “Você gostou mesmo da menina do museu, filho?”. Ele enterrou a cabeça no meu ombro, envergonhado até de mim, e balbuciou, como quem confessasse o primeiro arroubo do coração: “Pai, eu gostei dela”.
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